O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), condenou, nesta quarta-feira, as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal “Folha de S.Paulo”. Maia o classificou como um episódio triste, na “linha contrária” da defesa à democracia e à liberdade de imprensa, e que tem repercussões na economia.
Todo mundo sabe a importância que tem a liberdade de imprensa para a democracia. Tudo que acontece que vai na linha contrária vai sinalizando de forma negativa para a sociedade e para os investidores no Brasil. Todos vão olhando com dificuldade. Por isso, sempre que começa o ano a economia está sempre crescendo num patamar mais alto, mas chega no fim do ano a economia caminha para outro patamar. Porque esse tipo de comentário vai gerando perplexidade e insegurança na sociedade – disse Maia.
O presidente Jair Bolsonaro insultou a repórter nesta terça-feira, com uma insinuação sexual sobre o seu trabalho ao fazer referência ao depoimento à CPI das Fake News de Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma empresa que fez disparos em massa pelo WhatsApp nas eleições de 2018.
O insulto de Bolsonaro também repercutiu na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira.
Quem sabe tenha faltado, por parte da bancada feminina, tipificar a importunação verbal contra a mulher ou, eu diria até de uma forma mais clara, a importunação verborrágica contra a mulher, porque ela é uma violência moral. E ela é tão grave quanto qualquer outra. Ela dói tanto quanto a dor física. (…) É mais triste ainda essa sociedade que aplaude quem agride a alma da mulher. Essa dor é potencializada quando é dita por autoridades públicas – disse a presidente do colegiado, Simone Tebet (MDB-MS). A fala do presidente também foi criticada pelo líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA):
O presidente da República, ultimamente, com o poder que tem, cercando-se, inclusive, de uma proteção feita por pessoas que gravitam em torno dele, tem abusado muito das palavras nesse sentido. Expresso o meu repúdio total ao presidente da República. O Brasil não merece alguém que possa governá-lo com uma linguagem completamente distante do que seria a ética, o respeito, o equilíbrio emocional e a compostura de um presidente do país. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) completou:
Quero aqui me solidarizar com todas as mulheres. As instituições democráticas deste país estão sofrendo forte ataque: ora há aceno à volta dos AI-5, exaltação à ditadura; deboches com pessoas mortas e torturadas. ‘Página virada’
Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP-DEM), afirmou que os insultos proferidos pelo presidente contra a repórter são uma página virada. Alcolumbre disse que, após esse episódio, é preciso mais respeito à liberdade de imprensa.
Do ponto de vista da instituição do Senado da República, acho que foi um episódio que é uma página virada, porque já aconteceu. Mas que a gente possa, daqui para frente, conduzir com mais respeito, com mais atenção, porque vocês são atores importantes no fortalecimento das instituições. A imprensa é fundamental, a liberdade de imprensa é fundamental e a gente tem que proteger, isso está assegurado na Constituição – declarou o presidente do Senado, após se reunir com o governador de São Paulo, João Doria.
Falando por si, e não como presidente do Senado, o parlamentar disse lamentar o ocorrido. No entanto, ressaltou quue “isso cada um conduz da sua maneira. A minha maneira é conciliar, agregar, participar – completou. Doria se solidariza
Alcolumbre defendeu a CPI das Fake News. Disse que milhões de brasileiros têm sido vítimas de notícias falsas. Lembrou que, certa vez, divulgaram um vídeo, com conotação sexual, em que ele e o pai estavam dançando.
Ao lado de Alcolumbre, o governador de São Paulo, João Doria, condenou o tratamento dado à jornalista pelo presidente da República. Doria disse que tanto ele, como outros governadores, se solidarizaram com Patrícia Campos Mello. Segundo o governador, não há democracia sem respeito à imprensa.
Eu sou jornalista também, mas sou cidadão, sou brasileiro e sou um defensor da democracia. Sou filho de um deputado cassado pelo golpe militar de 1964. Aprendi o que é democracia com a dor que meu pai viveu no exílio e eu vivi com ele também. Não há democracia sem respeito à imprensa. Desrespeitar a imprensa é afrontar a democracia. Desrespeitar uma mulher jornalista é desrespeitar a sensibilidade que cabe a um cidadão e, principalmente, a um dirigente da nação em relação a uma jornalista mulher – afirmou o governador paulista. Mais Noticias Em… https://extra.globo.com/noticias/brasil/tudo-que-vai-contra-liberdade-de-imprensa-prejudica-pais-afirma-maia-ao-condenar-declaracoes-de-bolsonaro-24258032.html