
Os passageiros estão com receio de voar. A baixa confiança na segurança sanitária e no ambiente econômico pode retardar ainda mais a recuperação do setor aéreo, que tem sido um dos mais afetados com os efeitos das medidas restritivas para conter a disseminação do coronavírus.
Uma pesquisa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) revela que 40% dos passageiros pretendem esperar pelo menos seis meses após o controle da pandemia para entrar novamente em um avião. Outros 60% dizem que estariam dispostos a voar após 1 a 2 meses.
A entidade que representa companhias aéreas em todo o mundo fez um apelo aos governos para que adotem medidas para ajudar a recuperar a confiança dos passageiros.
A confiança dos passageiros sofrerá um golpe duplo, mesmo após a contenção da pandemia, atingida por preocupações econômicas pessoais diante de uma recessão iminente, além de preocupações persistentes com a segurança das viagens. Os governos e a indústria devem agir rápido e de forma coordenada com medidas para aumentar a confiança – disse Alexandre de Juniac, diretor-geral da IATA.
Ainda não há consenso sobre o que fazer para garantir a segurança dentro das aeronaves. O Canadá já determinou o uso de máscaras a bordo dos aviões no país, por exemplo. Outras medidas em discussão incluem a adoção de um passaporte de imunidade, com testagem rápida antes do embarque, limitação de bagagens na cabine ou mesmo inutilização do assento do meio.
Para Juniac, a testagem pode ser uma alternativa no futuro, mas a baixa confiabilidade e confiança dos testes rápidos existentes no mercado hoje dificultam a sua implementação. Já a inutilização do assento do meio, para o diretor-geral da IATA, terá um impacto financeiro negativo para as companhias, pois limitaria a taxa de ocupação a 60%. – Os voos de curta distância se pagam com pelo menos 70% de ocupação – , disse ele, em conversa com jornalistas.
Recuperação virá pelos mercados domésticos
Para a IATA, a recuperação do setor aéreo – que só este ano deve perder US$ 314 bilhões em receita devido à pandemia do coronavírus – vai começar pelos mercados domésticos, podendo beneficiar companhias que atuam em países com mercados domésticos maiores, como China e EUA e até mesmo o Brasil, que é o 5º maior mercado doméstico em receita por passageiro por quilômetro voado (RPK).
Na China, a oferta de voos domésticos aumentou na medida em que a taxa de crescimento de novas infecções de Covid-19 foi ficando abaixo de 10 pontos percentuais, caminhando para zero. Mas o volume de voos domésticos está estabilizado em um patamar equivalente a 40% da oferta pré-pandemia. A demanda efetiva deve ser ainda menor, já que muitos voos estão com ocupação baixíssima, na faixa de 20%.
A IATA estima que a partir do terceiro trimestre, os EUA devem ter uma retomada doméstica similar à chinesa, na medida em que contágio vier a ser controlado no país. Lá, as companhias aéreas contaram com um pacote de ajuda de US$ 25 bilhões do governo.
Mas a retomada da aviação doméstica, ainda que parcial, não é garantida mesmo após o controle da pandemia em cada país. Na Austrália, os casos de contaminação pelo novo coronavírus foram estabilizados, mas a demanda não voltou. Uma das maiores companhias locais, a Virgin Australia, entrou com pedido de recuperação judicial. Mais Noticias em… https://extra.globo.com/noticias/economia/crise-de-confianca-pode-retardar-retomada-do-setor-aereo-24385592.html