As dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19 e a falta de assistência por parte do Poder Público têm sido contornadas por produtores do município do Careiro com união e solidariedade. Iniciativas para evitar a perda de produção de hortaliças e frutas, aquisição de medicamentos e até assistência em saúde, têm ajudado os moradores das comunidades do local a sobreviverem durante a pandemia. “Presenciei casos em que agricultores fretaram carros para levar seus produtos em conjunto para vender, fizeram mutirões de trabalho, ajudaram quando outros adoeciam e não podiam ir até a cidade pegar medicamentos”, conta Edilise Costa, militante da causa ambiental e servidora do Departamento de Organização Comunitária, da Prefeitura Municipal de Careiro (AM).
Ainda em 2020, os agricultores estabeleceram contratos de fornecimento semanal da produção para varejões e mercados locais. Com a pandemia, esses grupos começaram a se organizar por conta própria, sempre estendendo a mão uns aos outros em um ciclo de solidariedade. Os contratos deram mais segurança financeira aos produtores. “Essa é uma dinâmica que precisa ser mais presente entre o poder público e os grupos de produtores”, avalia Edilise.
A feira de produtores familiares do Careiro vinha realizando as suas atividades de acordo com as recomendações das autoridades em saúde. No entanto, com o agravamento da pandemia, a feira foi suspensa. Para minimizar os impactos do fechamento, os produtores organizaram grupos para comercialização de produtos via WhatsApp e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Só no biênio de 2020/2021, o programa mapeou 2.060 agricultores familiares que irão fornecer 5.350 toneladas de alimentos, gerando uma receita de R$ 13,4 milhões em 61 municípios.
Até quem comercializa seus produtos fora da feira sentiu os efeitos da segunda onda do novo coronavírus. “O ponto aqui é bom, mas falta estrutura. Principalmente na primeira onda teve uma queda muito grande no fluxo de veículos e também acabei precisando fechar. Agora nessa segunda o movimento caiu também, mas consegui estruturar melhor a banca e colocar mais produtos para estabilizar as vendas. Nós não temos estrutura de um veículo que possa pegar a mercadoria com os produtores, então ficamos dependendo deles trazerem para a gente”, conta o produtor Roberto de Lima Kettle, que precisou para de trabalhar quando contraiu Covid-19. Roberto trabalha com dois filhos na produção de cupuaçu, mandioca, banana, açaí, além de doces de côco e de leite. Ele vende os produtos em uma banquinha às margens da rodovia há 10 anos.
Os produtores do Careiro contam com o apoio de instituições e grupos da sociedade civil organizada, como a Casa do Rio, que atendeu mais de 480 famílias na região de influência da BR-319, e Rede Maniva de Agroecologia (REMA), que viabiliza o transporte de alimentos do campo para a cidade facilitando o acesso dos consumidores aos alimentos.
“Na minha visão, o poder público precisa dialogar mais para que essas famílias não continuem sofrendo tanto. Existem organizações sociais que também podem dialogar com o governo, desde que todos se permitam a isso. Aqui no Careiro temos a Casa do Rio que, na medida do possível, promove ações para auxiliar na comercialização desses produtos e possui uma escola itinerante de agroecologia”, avalia Edilise.
Texto originalmente publicado na 16ª edição do Informativo do Observatório BR-319