‘Minha dor é tão grande que nem consigo sentir revolta’, diz pai de menino assassinado em creche no Sul

Na manhã da última terça-feira, o eletricista Maurício Massing, de 35 anos, mudou excepcionalmente sua rotina. Em vez de ir para o trabalho de moto, como de costume, decidiu pegar uma carona no carro da mulher, Kerli da Silva, 28, que em seguida deixaria no colégio o filho Murilo, de 1 ano e 9 meses. Assim que chegou à sede da empresa, por volta das 7h15, ele ouviu as últimas palavras do menino: “Tchau, papai”. Murilo é uma das cinco vítimas — três crianças e duas professoras — mortas a facadas no ataque a uma creche em Saudades, no interior de Santa Catarina. O assassino, que tentou o suicídio ainda no local do crime, segue internado sob custódia policial.

Eu não tenho esse sentimento de revolta. Minha dor é tão grande que nem consigo sentir revolta ainda. O luto pelo Murilo não sai da cabeça — disse Maurício, em entrevista ao EXTRA. Só lembranças boas do Murilo. A dor é insuportável. Era só alegria. Eu estava olhando vídeos e fotos dele… É inexplicável.

Kerli estava no trabalho, a duas quadras da creche, quando sua irmã a avisou sobre o ocorrido, por volta das 10h20. Fazia dois meses que ela levava Murilo para passar as manhãs na escolinha, após cuidar dele em casa durante um ano e meio. O menino passava as tardes com a avó materna.

Ele acordou bem cedo naquele manhã. Tomou leite na cama com o irmão e depois veio até a cozinha com as mamadeiras, dizendo “pia, pia”, para que eu as colocasse na pia. Fomos para a escola e, ao chegar, a professora de quem ele mais gostava estava sentada no chão. Veio uma outra pegá-lo, e ele não quis. Só quando a Larissa (professora) se levantou que ele foi. No carro, já vinha falando: “Issa, issa, boi”. Dizia que ia à escola brincar com a Larissa e com o boi. Perguntei se ele queria me entregar o bico (a chupeta), falou que não e disse: “Tchau, mamãe” — contou Kerli.

Quando a mãe de Murilo voltou à creche, havia pessoas correndo, uma gritaria generalizada, viaturas e ambulâncias na rua. Kerli tentou entrar no local, mas foi impedida por um policial. Foi comunicada que as crianças estavam nas casas vizinhas e seguiu atrás do filho, até saber que ele havia sido levado para o hospital.

Ao chegar ao hospital, Kerli soube que Murilo havia morrido. Ela passou mal e precisou de atendimento médico. Cerca de uma hora depois, Maurício recebeu a mesma notícia na recepção da unidade de saúde. Ele havia viajado a serviço à cidade vizinha de Pinhalzinho e retornou para Saudades assim que foi avisado sobre o ataque na creche.

Quando cheguei em Saudades, já falaram para eu ir direto para o hospital. Minha mulher estava no quarto, tinha passado mal. Ao chegar na recepção, perguntei pelo meu filho e descobri que estava morto — afirmou Maurício.

Nas fotos e vídeos de Murilo, vêm as lembranças de um menino alegre, extrovertido e esperto. A criança que chorava muito nos primeiros dias na creche, há cerca de duas semanas já havia começado a se adaptar. Tinha sua professora preferida e passou a aceitar comida na escolinha, o que não acontecia antes. É a imagem que fica para a família.

Também foram mortos no ataque a professora Keli Aniecevski, de 30 anos, a assistente Mirla Renner, de 20, Anna Bela, de 1 ano e 8 meses e Sarah, de 1 ano e 7 meses. Uma criança ainda está internada.

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