A recuperação global da pandemia da Covid-19 deve levar as emissões de gases de efeito estufa aos níveis mais altos de todos os tempos, afirmou a Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris, em um relatório nesta terça-feira.
“Estimamos que a implementação total e oportuna das medidas de recuperação econômica anunciadas até o momento resultaria em emissões de CO2 subindo para níveis recordes em 2023, continuando a aumentar depois disso”, informa o documento.
Os planos de gastos com energia limpa alocados por governos em todo o mundo no segundo trimestre somam US$ 380 bilhões, representando apenas 2% do total de seus fundos de estímulo em resposta à pandemia, disse a AIE.
O órgão de vigilância energética disse que o valor representa cerca de um terço do que avalia ser necessário para colocar o mundo no curso para alcançar emissões líquidas zero até meados do século.
“As somas de dinheiro, público e privado, mobilizadas em todo o mundo pelos planos de recuperação ficam muito aquém do que é necessário para atingir as metas climáticas internacionais”, escreveu o chefe da AIE, Fatih Birol.
Ele acrescentou que os países “devem ir ainda mais longe”, levando o investimento e implantação de energia limpa a patamares muito maiores além do período de recuperação, com objetivo de “levar o mundo a um caminho de emissões líquidas zero até 2050, o que é estreito, mas ainda alcançável — se agirmos agora”.
A IEA divulgou, em um relatório em maio, suas descobertas mais severas sobre o clima. O documento dizia que o mundo não deveria investir em novos projetos de combustíveis fósseis se espera chegar a emissões líquidas zero até 2050.
As emissões devem ser de 3,5 bilhões de toneladas a mais do que o limite necessário para atingir essa meta, disse a AIE nesta terça-feira.
As novas descobertas são de um rastreador de recuperação sustentável, lançado pela AIE nesta terça-feira, para ajudar os formuladores de políticas a avaliar até que ponto os planos de recuperação estão fazendo diferença no clima. A nova ferramenta é uma contribuição para a reunião do G20 sobre meio ambiente, clima e energia, que será realizada em Nápoles, na Itália, nos dias 22 e 23 de julho.
A ferramenta monitora os gastos dos governos alocados para recuperações sustentáveis e, em seguida, estima o quanto eles aumentam o investimento geral em energia limpa e em que grau isso afeta a trajetória das emissões globais de CO2. São consideradas na análise mais de 800 políticas nacionais de recuperação sustentável.
De acordo com os planos atuais, dois terços dos US$ 380 bilhões destinados à energia limpa devem ser gastos até 2023 e quase todo o restante utilizado até 2030, contribuindo para um rápido declínio ao longo da década, com os gastos em 2030 caindo para menos de um vigésimo do valor alcançado em 2021.
Disparidades entre países
A agência também aponta disparidades geográficas “gritantes” que estão surgindo no investimento em energia limpa. A maior parte dos recursos está sendo mobilizada em economias avançadas, segundo a AIE.
“Muitos países — especialmente aqueles nos quais as necessidades são maiores — também estão perdendo os benefícios que um investimento bem planejado em energia limpa traz, como maior crescimento econômico, novos empregos e o desenvolvimento das indústrias de energia do futuro ”,afirmou Birol.
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