Fevereiro Laranja: criança descobre na arte uma ferramenta para lutar contra leucemia

Atividades lúdicas permitem a crianças em tratamento maior adaptação ao cotidiano do hospital, o que influencia na recuperação

Reislainy Nogueira, de 10 anos, só pensa em uma coisa: desenhar. Parece normal para uma criança na idade dela, mas a aptidão só foi descoberta há pouco tempo, em meio a uma fase difícil: o tratamento contra o câncer.

Entre as sessões de quimioterapia na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), ela começou a pintar e não parou mais. Diagnosticada com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) há quase um ano, a atividade virou uma distração durante o tratamento.

“Comecei no dia que eu estava muito entediada e resolvi pintar. Meu primeiro desenho foi uma árvore. Eu me inspirei em alguma coisa, veio alguma coisa na cabeça, eu pensei, ‘Vou desenhar’, e desenhei. Quando eu pinto me sinto feliz”, conta.

A mãe, Alzilane Nogueira, lembra a descoberta da pintura. “Depois que ela começou a fazer terapia aqui, ela ficava entediada porque ela não gosta de celular, foi quando ela começou a desenhar e me surpreendeu, porque antes não desenhava. Ela faz tudinho, depois ela fica tranquila, tranquila, não tem tempo ruim pra ela. Ela se distrai com o desenho. Eu, como mãe, percebi que é ótimo para ela durante o tratamento”, avalia.

Reislainy, que quer ser médica e artista no futuro, desenha o que vê e o que sente. Árvores, gramas, céu azul, flores, pessoas, animais, sentimentos. É isso que preenche as telas de pinturas da pequena. “Quando eu estou pintando eu fico feliz, acho lindo, muito bonito”, finalizou.

“Quando eu pinto me sinto feliz”, diz Reislainy, que encontrou na atividade um instrumento para lutar contra leucemia diagnosticada há quase um ano

Auxílio no tratamento – Conforme o psicólogo do Hemoam, Carlos Ramalho, as atividades lúdicas amenizam os efeitos colaterais do tratamento.

“Um aspecto que já é muito afetado numa condição de doença, como a leucemia, é o fato da pessoa estar muito à mercê do cuidado dos outros. Ela precisa ganhar um protagonismo, buscar recursos que lhe tragam bem-estar, e a arte ajuda nesse aspecto. Isso torna o tratamento menos doloroso e angustiante para as crianças”, explicou.

Ainda de acordo com o psicólogo, a arte contribui para tirar um pouco o foco da doença. “Às vezes vêm ansiedade, medo, incertezas, e a arte possibilita que a pessoa se encontre um pouco mais tranquila. É um elemento muito rico, ajuda você a reforçar as conexões, então traz um bem-estar nesse sentido, e sem dúvida nenhuma auxilia muito positivamente no tratamento”, avaliou.

Diagnóstico precoce – O câncer infantil tem uma data internacionalmente conhecida para alertar a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce: 15 de fevereiro. No Amazonas, o Hemoam é referência no diagnóstico e tratamento de pelo menos 50% dos casos de câncer infantojuvenil atendidos pela rede pública de saúde.

Desde 2017, o Hemoam desenvolve o Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infantil (Leucemia Aguda), que tem como objetivo qualificar profissionais técnicos de Patologia na capital e interior para identificar as células da leucemia a partir de amostras de sangue.

Com isso, houve um aumento do encaminhamento de casos suspeitos, oportunizando, em tempo hábil, o diagnóstico e tratamento dos pacientes, aumentando as chances de cura para essas pessoas.

Para a médica hematologista do Hemoam, Ana Paula Veloso, o diagnóstico de leucemia promove grandes inquietações para a família inteira, mas, quanto mais cedo acontecer, maiores são as chances de cura para a criança.

“Quanto mais precoce a gente conseguir diagnosticar, mais chance a gente tem de uma classificação da leucemia, para definir mais rápido e com mais precisão um tratamento. Quanto mais precoce, mais chance de recuperação também. Normalmente temos, em média, acima de 80% de chance de cura”, explicou.

Dados – Em 2021, 107 novos casos de leucemia foram diagnosticados e tratados no Hemoam. De 2016 a 2021, foram 775 casos diagnosticados no Hemoam, uma média de 129 casos por ano, sendo 61,20% oriundos da capital e 38,80% do interior.

Em crianças, o número de casos de LLA diagnosticados no Hemoam no período de 2016 a 2021 foi de 294, sendo 55 casos em 2021.

FOTOS: Herick Pereira/Secom e Divulgação/Hemoam

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