Jogadores de diferentes origens e classes sociais mostram como o esporte pode transformar vidas
Durante muito tempo, o xadrez foi um esporte atrelado a estigmas de que era apenas para um grupo específico de pessoas, geralmente ligado à elite, mas não é. E a prova disso é a promoção que tem se dado ao esporte ao longo dos últimos anos, que resultou na ascensão de diversos atletas de classes sociais mais baixas.
Essa realidade democrática do esporte se evidencia em eventos que promovem o xadrez entre todos os públicos, como o Manaus Chess Open, que acontece até o próximo dia 16 no Novotel, Distrito Industrial. O evento, realizado pela Federação Amazonense de Xadrez (FAX), reúne diferentes histórias e origens de 120 atletas que vieram de todas as partes do mundo. São enxadristas de oito países e, pelo menos, 17 estados brasileiros.
O participante Dario Ripa, de 33 anos, é um dos atletas em ascensão que veio de uma realidade mais humilde. Peruano e pela primeira vez no Brasil, ele conta que começou a jogar na minha escola ainda criança.
“Comecei muito novo, na escola, e isso reforça a importância de as crianças conseguirem ter acesso ao esporte no ambiente educacional”.
De acordo com ele, há um problema “estrutural” no investimento da modalidade na América Latina.
“É preciso que se invista no esporte. Temos esse problema em toda a América Latina, inclusive, no Peru. Os governos precisam incentivar as crianças e adolescentes para praticar o xadrez, que é tão benéfico para mente”, ressaltou Ripa.
Em Manaus, Amanda Silva, de 16 anos, e Matheus Santos, de 17, são exemplos de jovens de origem periférica que estão crescendo no esporte. Ambos moram no bairro Zumbi dos Palmares e estão participando do evento, representando a Escola Estadual Padre Luiz Ruas, em busca de mais experiência. O objetivo deles, além de levar uma medalha para casa, é ter contato com Grandes Mestres da modalidade.
Amanda conta que aprendeu a jogar em 2019, mas só começou a praticar a modalidade com frequência um ano depois, durante a pandemia da Covid-19. Ela é uma das poucas meninas da escola dela que sabe jogar xadrez.
“Comecei a jogar aos 14 anos, mas só em 2020, aos 15, comecei a praticar com mais frequência. Eu aproveitei que estava em casa e não tinha muitas coisas para fazer. Desde então, passei a gostar muito do xadrez e agora sempre jogo na escola e em alguns campeonatos escolares”, conta.
Matheus explica que seu contato com o xadrez também começou na escola, só que em 2021.
“Conheci o xadrez na escola, em um projeto de uma professora. Ela apresentou o jogo na sala e eu fui um dos poucos que se interessou de fato na modalidade”
Esta “semente” plantada pela professora rendeu grandes frutos, como a participação dos dois alunos em um evento de grande porte: o Manaus Chess Open.
“Essa experiência está sendo super importante para mim, porque estou tento oportunidade de conhecer várias pessoas, ganhar experiência, além de estar em um evento com grandes mestres mundiais”, finalizou Matheus.
Trabalho de base
Sabendo que para “criar” grandes jogadores é necessário chamar atenção para a modalidade, a Federação Amazonense de Xadrez (FAX) tem buscado desenvolver um trabalho de base, com crianças e adolescentes.
“Nesse fim de semana, nós tivemos uma grande atividade que reuniu crianças e adolescentes jogando xadrez no Millennium Shopping e foi uma ótima oportunidade de mostrar à população a importância e benefícios da modalidade”, destaca Daniel Leite, diretor técnico da FAX.
Ele também pontua a importância de, além de chamar para o esporte, levar a prática quem não tem como acessá-la.
“O xadrez, de fato, teve essa face elitizada durante muito tempo. Atualmente, estamos tentando mudar esse estigma e levar a modalidade para crianças de diferentes zonas e bairros da capital”, revelou Daniel.
Programação
A programação do Manaus Chess Open segue até o próximo domingo (16), a partir das 14h, no Novotel, localizado no Distrito Industrial, ao lado do IBIS Hotel.