O debate sobre a ação do ex-deputado federal Roberto Jefferson, que reagiu com tiros e granadas contra policiais federais ao cumprimento de ordem de prisão, teve protagonismo no Facebook da oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL). É o que revelam dados levantados pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV/ECMI).
Os perfis anti-Bolsonaro, formados por esquerda e centro, concentraram 38,7% de páginas e grupos públicos que compartilharam links sobre o episódio. Esse grupo se dedicou a vincular o ex-deputado ao presidente. A estratégia foi tanto ironizar a declaração de Bolsonaro sobre não possuir nenhuma foto com Jefferson quanto alimentar a teoria de que a ação foi planejada junto ao presidente. Já a base bolsonarista somou 22,85% dos perfis e repercutiu, principalmente, links que reforçavam uma resistência de Jefferson “à tirania” da decisão de prisão.
O levantamento também identificou participação menor de páginas e grupos de compra e venda (2,88%), que também buscaram vincular Bolsonaro a Roberto Jefferson. O compartilhamento de conteúdos anti-Bolsonaro nesses espaços já foi publicamente defendido pelo deputado federal André Janones (Avante-MG), aliado de Lula, que aposta na tática para furar a bolha e atingir eleitores indecisos. Outro segmento que entrou na discussão foram as páginas de notícias locais (1,48%), que compartilharam atualizações sobre o caso.
Este ato teve um grande impacto na base bolsonarista, gerando um silêncio do eixo governista. Jefferson colocou as armas em evidência, que é um tema muito negativo para a campanha de Bolsonaro. É um tema que não fura a bolha. Além disso, atingiu uma das bases que o bolsonarismo tenta mobilizar: o segmento de segurança pública. Jefferson conseguiu passar uma mensagem de violência para além da norma legal — explica o diretor da FGV/ECMI, Marco Aurélio Ruediger.
A análise da FGV/ECMI mostra que, no Twitter, a oposição também reagiu à tentativa de desvincular as imagens de Bolsonaro e Jefferson. A expressão “Roberto Jefferson é Bolsonaro” e postagens com afirmações de que o ex-deputado seria coordenador de campanha do presidente foram algumas das estratégias. Também foram observadas críticas ao tratamento amigável da Polícia Federal ao ex-deputado. Contas antibolsonaristas lembram episódios de violência policial contra pessoas negras e pobres.
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, Letícia Capone, que tem feito um monitoramento diário das plataformas, chama atenção para uma mudança nos rumos do debate observado na última semana. A base bolsonarista vinha dominando a pauta das redes com críticas e ataques a decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e com a mobilização para a “superlive” de Bolsonaro, mas se viu sem o controle da discussão:
Ainda que Bolsonaro tenha articulado uma superlive, que angariou alto alcance, as redes no domingo ficaram mobilizadas em torno da prisão. Houve uma articulação para manter o caso dentro da discussão feita ao longo da semana sobre as decisões do TSE, mas essa narrativa acabou desconstruída.
Silêncio da base
No WhatsApp, entre os mais de 15 mil grupos públicos monitorados pela Palver, as menções negativas sobre Roberto Jefferson predominaram. Foram 49,22% das citações ao longo do dia de ontem. Outros 40,06% foram classificadas pela Palver como neutras e 10,71% como positivas. O tema atingiu na tarde de ontem um pico de 1.046 menções a cada 100 mil mensagens trocadas nos grupos. Parte do conteúdo vinculou a atitude do ex-parlamentar ao bolsonarismo.
Estudioso da mobilização de bolsonaristas no aplicativo de mensagens, David Nemer, professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, afirma que a repercussão, nos grupos que monitora há mais de quatro anos, foi marcada pela mudança repentina de tom e também pelo silêncio dos apoiadores do presidente no dia seguinte ao episódio.
Primeiro, houve uma aprovação à atitude de Roberto Jefferson, que foi visto como herói. Com o tuíte de Bolsonaro, condenando o que fez o ex-deputado, apoiadores trouxeram o tom de desaprovação para os grupos. Hoje (ontem), há um silêncio. Quando há silêncio é porque os apoiadores do presidente não sabem lidar com a situação.