Em debate virtual, economistas defendem implantação de outros setores na ZFM no pós-pandemia

Taxar imposto sobre as grandes fortunas, abrir os bancos públicos para garantir acesso ao crédito às micro, pequenas e médias empresas e aos empreendedores individuais e investir fortemente em educação e tecnologia; desenvolver a Indústria 4.0, bem como no complexo de biofármaco, de bioeconomia, do turismo ecológico, da piscicultura, da agricultura e até de indústrias de equipamentos hospitalares na Zona Franca de Manaus (ZFM); além da necessidade de se pensar em um modelo econômico com a identidade amazônica, como o turismo de base e de pesca. Essas foram as principais contribuições dos economistas do Estado para o país e o Amazonas neste período de pandemia e pós-pandemia, durante reunião virtual realizada na noite desta quinta-feira (21), de autoria do economista e deputado federal José Ricardo (PT/AM), com o tema “A crise provocada pela Covid-19 na Economia no Amazonas”.

Para eles, a exemplo do economista Ivan Lemos, a crise provocada pelo novo Coronavírus já pegou a economia do Brasil bastante fragilizada, com o crescimento no ano de 2019 inferior a 2018 e 2017, com projeções de crescimento bastante rebaixadas, altas taxas de informalidade, de desemprego e de empresas endividadas. E alertam para o pior: previsão de queda na economia de 5,3%, aumento de 4,5% da taxa de desemprego e também da taxa de da pobreza, com mais de 80 milhões de novos miseráveis. “Ao sairmos da pandemia, vamos lidar com três fatores: desemprego, concentração de renda e pobreza. Mas qual a capacidade do Amazonas de dar representatividade às políticas de estado? Se nada for feito, podemos ter uma segunda onde de falência no nosso Estado”, afirmou o economista Benjamin Rondon Neto.

O deputado José Ricardo destacou que o futuro do Amazonas e da Amazônia passa pelo conhecimento, com investimentos na educação, pesquisa e desenvolvimento. “E nós, economistas, precisamos ser vozes fortes para questionar os gastos públicos, a falta de planejamento e o desperdício de dinheiro. Com o isolamento social tão necessário neste momento, as empresas estão paradas, precisando de recursos para manter suas despesas e seus funcionários. Por outro lado, estados e municípios, por conta de queda de arrecadação, também necessitam de recursos para manter os gastos públicos. Temos ainda os milhões de trabalhadores informais, sem renda e até desempregados, lutando para se manter. E também a Zona Franca de Manaus, com a retomada das suas atividades e as várias implicações e fatores. Essa é a realidade da pandemia, priorizando a vida e buscando meios para minimizar os impactos na economia. Avaliar como e quando sair dela e a consequência na vida das pessoas são reflexões importantíssimas, que têm a ver com o futuro do Estado”, declarou ele, que irá avaliar todas as sugestões que podem ser transformadas em propostas, projetos, indicações e cobranças aos governos.

Crescimento com recursos escassos

Epidemias, na avaliação do economista Noval Benayon, são potencializadores do aumento das taxas de mortalidade e de pobreza. Por outro lado, comunga da opinião de estudiosos que dizem não ser possível crescimento econômico infinito em um mundo finito. “E como coordenar essa crise da pandemia de forma coerente, com recursos escassos? Há necessidade do Estado intervir, mas não é cortando salários, como pensa esse Governo neoliberal, aumentando o círculo vicioso da pobreza ou matando os pobres. Mas taxando, por exemplo, o imposto sobre as grandes fortunas, onde R$ 95 bilhões estão hoje nas mãos de apenas um banqueiro. Se fossem taxados apenas 3% de todo o montante, dariam para amenizar essa crise e a crescente pobreza”.

“Aprofundar a Indústria 4.0 é interessante. Nossa matriz, desde o marco da Zona Franca, está propícia para a montagem de bens complexos. Não temos diferencial grande, do ponto de vista tributário, para se ter equipamentos de saúde. Mas precisamos ter força maior na fabricação de equipamentos hospitalares. Isso faz parte do futuro”, observou o economista e professor Mauro Thury de Vieira Sá.

Para a economista Marcela Vieira, que trabalha na economia popular solidária e com os micro empreendimentos, a ineficiência do sistema público de saúde não consegue dar vazão aos municípios do Amazonas e aos que estão na extrema pobreza. “Precisamos nos desafiar para um modelo, além a Zona Franca de Manaus, pensando em outro modelo com a nossa identidade amazônica, com o turismo de base, da pesca. Temos que pensar em uma outra economia para o mundo”, completou Marcela, informando que muitas pessoas que estão na extrema pobreza não conseguiram ter acesso ao auxílio emergencial, visto que nem CPF tinham regularizado e nem aparelho de telefone celular para se cadastrar em site e aplicativo da Caixa Econômica Federal (CEF).

 De acordo com o economista e também professor, Luís Roberto Coelho Nascimento, os mais penalizados no pós-crise serão os pequenos empresários, os informais e as famílias de baixa renda. Para ele, a Zona Franca de Manaus precisa de reforma e ganhar propulsão nos setores da bioecoiomia, do biofármaco, do turismo ecológico e da piscultura. “Mas toda indústria só pode desenvolver com organização. O “Ficar em casa” é a vacina que se tem no momento. Mas, com a economia quase parada, diminui a arrecadação fiscal, com poucas alternativas para financiar os bens públicos. A crise da saúde vai passar, mas a recuperação da economia será lenta”.

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