De ex-tesoureiro de Crivella a atual estrategista de Paes: saiba quem são os alvos de operação do MP e da Polícia Civil

RIO – A operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MP-RJ) que mira um suposto esquema de corrupção na Prefeitura do Rio, deflagrada na manhã desta quinta-feira, teve entre seus alvos Mauro Macedo, tesoureiro do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, na campanha de 2016, e o economista Marcelo Faulhaber, que atuou na eleição de Crivella há quatro anos e atualmente é um dos estrategistas da candidatura de Eduardo Paes (DEM). Crivella, que também foi alvo da operação, viu os agentes cumprirem mandado de busca e apreensão em sua residência, na Barra da Tijuca, e no seu gabinete.

Os detalhes da operação estão sob sigilo. Falhauber foi subchefe da Casa Civil do governo Paes, com quem rompeu. Trabalhou como subsecretário de Planejamento da prefeitura de Belo Horizonte e fez parte do grupo transição para a prefeitura de Crivella. Ajudou a elaborar os primeiros decretos, fazendo inclusive a avaliação da situação financeira da prefeitura, mas não foi nomeado para o governo. Na eleição ao governo do estado em 2018, Faulhaber voltou a trabalhar com Paes.

O ex-tesoureiro Mauro Macedo, que também trabalhou com Crivella nas campanhas de 2004 à prefeitura e de 2010 ao Senado, já foi citado em delação premiada do ex-presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo a delação, Macedo teria recebido R$ 2,5 milhões em repasse via caixa dois na campanha de 2016. O ex-prefeito Eduardo Paes e o atual presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felippe (DEM), também foram citados na delação de Teixeira.

Além desta delação, Macedo – que ganhou o apelido de “Mestre dos Magos” na última campanha de Crivella – já foi citado também em depoimento de Edimar Moreira Dantas, ex-funcionário do doleiro Álvaro Novis, pelo suposto recebimento de doações não declaradas da Fetranspor no valor de R$ 450 mil entre 2010 e 2012.

O prefeito Marcelo Crivella ainda não se manifestou. Ele participou de um evento com o presidente Jair Bolsonaro e com o governador em exercício Cláudio Castro horas depois da operação. O advogado de Crivella, Alberto Sampaio, disse que o mandato tinha o objetivo de apreender celulares, notebooks e documentos. Ele no entanto não confirmou se algo foi mesmo recolhido.

O ex-prefeito Eduardo Paes ainda não se manifestou sobre o fato de seu atual estrategista ter sido alvo da operação desta quinta-feira, relacionada à gestão Crivella. Ao ser alvo de busca e apreensão em outro caso, que tramita na Justiça Eleitoral, na terça-feira, Paes afirmou que a operação era uma “tentativa clara de interferência no processo eleitoral” e afirmou que não tivera acesso aos termos da denúncia – que tem relação, em seu caso, com repasses via caixa dois da Odebrecht na sua campanha à reeleição em 2012.

Ex-secretário e irmão de ex-presidente da Riotur

A ação desta quinta-feira é um desdobramento da Operação Hades, que investigou o “QG da Propina”, um suposto esquema de cobrança de propina para a liberação de pagamentos da Prefeitura do Rio de Janeiro na gestão Crivella, que teria a Riotur como balcão de negócios. A primeira operação, em 10 de março, mirou o ex-presidente do órgão Marcelo Alves; o irmão dele, Rafael Alves; e o empresário João Alberto Felippo Barreto, o João da Locanty, todos suspeitos de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Rafael Alves também foi alvo de nova busca e apreensão nesta quinta-feira. A operação desta quinta é um novo desdobramento da delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso na Operação Câmbio, Desligo no ano passado. Segundo a delação de Mizrahy, o irmão do ex-presidente da Riotur atuava viabilizando a “contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo Paes, tudo em troca do pagamento de propina”.

De acordo com a investigação, Crivella chegou a telefonar para Rafael Alves no dia da primeira operação, em março. Os investigadores também apontam indícios de que o prefeito mantinha relação próxima com Alves.

Rodrigo Santos de Castro, outro investigado, foi subsecretário de Eventos na gestão Crivella, sob o guarda-chuva da Riotur até o ano passado. Após mudanças administrativas promovidas por Crivella para se livrar de um pedido de impeachment, em 2019, a pasta passou a ser controlada pela secretaria de Envelhecimento Saudável. Atualmente, Castro é o subsecretário de Eventos e Relações Institucionais do governo do estado.

Os mandados de busca e apreensão foram expedidos pela desembargadora Rosa Maria Helena Guita, relatora do caso no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Um dos alvos da operação, Leonardo Conrado Nobre Fernandes tem contratos ativos com a prefeitura do Rio no valor total de R$ 97,5 milhões, através da empresa Ziuleo Copy. Deste valor, R$ 64,2 milhões já foram pagos, segundo o portal de transparência da prefeitura. Os contratos envolvem pastas como as secretarias de Educação e de Saúde, além da Columrb.

Também estão entre os alvos da operação o ex-secretário de Fazenda de Crivella, Cesar Barbiero, e Geraldo Guedes, funcionário da secretaria, e o empresário Elso Venâncio Vieira Fonseca, dono da Sportplus Marketing Esportivo.

Antigos aliados e contraventor

A operação mirou ainda um contraventor condenado e também antigos aliados do prefeito Marcelo Crivella. Isaías Zavarize, que trabalhou com Crivella por 15 anos, também foi alvo de busca e apreensão do MP e da Polícia Civil. Zavarize foi vice-presidente estadual do PRB, atual Republicanos, partido do qual se desfiliou em janeiro deste ano. Ele também foi chefe de gabinete de Crivella na prefeitura do Rio, mas pediu exoneração em julho do ano passado.

Outro aliado de Crivella alvo do MP e da Polícia Civil é o ex-senador Eduardo Lopes, atual secretário estadual de Agricultura. Lopes foi 1º suplente quando Crivella se elegeu ao Senado, em 2010, e assumiu o mandato depois que o então senador decidiu concorrer à prefeitura do Rio em 2016. Ele também foi presidente regional do PRB, partido de Crivella.

Licínio Soares Bastos, contraventor condenado na Operação Furacão, desencadeada pela Polícia Federal em 2007, também está entre os investigados no suposto esquema de corrupção na prefeitura do Rio. A operação condenou à época nomes da cúpula do jogo do bicho no Rio, como Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e Antonio Petrus Kalil, o Turcão. Licínio foi condenado por corrupção ativa, mas até janeiro deste ano aguardava em liberdade o julgamento de recursos no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).

Quem está entre os alvos da operação:

Marcelo Crivella: prefeito do Rio

Mauro Macedo: ex-tesoureiro de Crivella na campanha à prefeitura do Rio, em 2016

Eduardo Lopes: ex-senador pelo PRB e atual secretário estadual de Agricultura do governo Witzel

Licínio Soares Bastos: contraventor condenado pela Operação Furacão em 2007

Bruno Miguel Soares de Oliveira e Sá: sócio de Licínio na LBX Equipamentos Ltda e diretor-executivo do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado do Rio (Sindoperj)

Elso Venâncio: dono das agências de publicidade MKT Pluss e da Sportplus Marketing Esportivo Ltda

Luiz Carlos da Silva: sócio da Sportplus Marketing Esportivo

Rodrigo Venâncio Fonseca: filho de Elso Venâncio

Rafael Alves: empresário e irmão do ex-presidente da Riotur Marcelo Alves

Cesar Augusto Barbiero: ex-secretário de Fazenda e atual presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp)

Isaías Zavarise: vice presidente do PRB e ex-chefe da gabinete de Crivella

Christiano Borges Stockler Campos: empresário

Aziz Chidid: presidente do Grupo Assim Saúde

Leonardo Conrado Nobre Fernandes: sócio da Ziuleo Copy Comércio e Serviços Ltda, empresa que tem contratos com a Prefeitura do Rio

Marcello Faulhaber: marqueteiro de Eduardo Paes

Geraldo Guedes: funcionário da Secretaria de Fazenda

Rodrigo Santos de Castro: ex-subsecretário de Eventos da prefeitura do Rio, comanda a subsecretaria de Eventos e Relações Institucionais no governo do estado

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