Por terra, ar e mar, a Rússia invadiu a Ucrânia nesta quinta-feira, confirmando os piores temores do Ocidente com o maior ataque de um Estado contra outro na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Mísseis russos caíram em grande quantidade sobre cidades ucranianas. Segundo a Ucrânia, colunas de tropas vem cruzando suas fronteiras nas regiões Leste de Chernihiv, Kharkiv (segunda maior cidade da Ucrânia) e Luhansk, e desembarcando por mar nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, no Sul.
Explosões puderam ser ouvidas antes do amanhecer na capital ucraniana, Kiev. Tiros ecoaram, sirenes soaram por toda a cidade e a rodovia ficou congestionada com o tráfego, enquanto os moradores tentavam fugir.
Há relatos de uma coluna de fumaça subindo perto da sede da inteligência do Ministério da Defesa ucraniano no centro da capital. Testemunhas viram pessoas uniformizadas tentando apagar o fogo. Autoridades dizem que pelo menos seis pessoas foram mortas por uma série de ataques com mísseis na cidade de Brovary, nos arredores de Kiev. O prefeito de Kiev decretou toque de recolher das 22h as 7h na cidade.
Três horas depois da ordem de Putin, o Ministério da Defesa da Rússia declarou ter provocado estragos na infraestrutura militar das bases aéreas ucranianas e degradado suas defesas aéreas.
Mais cedo, a mídia ucraniana informou que os centros de comando militar em Kiev e Kharkiv, no Nordeste, foram atingidos por mísseis, enquanto as tropas russas desembarcaram em Odessa e Mariupol. Mais tarde, uma testemunha da Reuters ouviu três fortes explosões em Mariupol.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que o objetivo do líder do Kremlin, Vladimir Putin, é destruir seu Estado.
“Putin acaba de lançar uma invasão em grande escala da Ucrânia. Cidades pacíficas ucranianas estão sob ataque”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter. “Isso é uma guerra de agressão. A Ucrânia vai se defender e vencer. O mundo pode e deve parar Putin. O momento para agir é agora”, disse.
Um morador de Kharkiv, a cidade grande mais próxima da fronteira com a Rússia, disse que as janelas dos prédios de apartamentos tremiam com as explosões constantes.
Do lado de fora de Mariupol, perto da linha de frente mantida por separatistas apoiados pela Rússia, a fumaça subia de um incêndio em uma floresta que foi alvo de bombardeios russos.
Uma coluna blindada ucraniana seguia pela estrada, com soldados sentados no topo de torres sorrindo e fazendo sinais de vitória com os dedos para carros que passavam buzinando em apoio.
Segundo o Exército russo, 74 instalações de infraestrutura militar ucraniana foram destruídas, incluindo 11 pistas de decolagem. Autoridades ucranianas afirmaram terem registrado no mínimo 203 ataques oito horas após o início da ofensiva, que ainda está em andamento.
O porta-voz do Ministério da Defesa russo, o general Igor Konashenkov, anunciou na televisão a destruição de “três postos de comando, uma base naval ucraniana e 18 estações de radar dos sistemas de defesa antimísseis ucranianos S-300 e Buk-M1”, bem como um “helicóptero de ataque” e “quatro drones Bayraktar TB-2” de fabricação turca.
Konachenko também disse que um caça russo Su-25 caiu “como resultado de um erro do piloto”, que conseguiu se ejetar e está “seguro e em sua unidade militar”.
Sob cobertura de bombardeios russos, afirmou Konashenkov, os separatistas pró-Rússia “avançaram 7 quilômetros” em sua ação contra o Exército ucraniano no Leste. No entanto, ainda não há confirmação independente de tais alegações.
Também ainda não há informações precisas e confimadas sobre números de vítimas. O Exército ucraniano afirma ter matado 50 russos e abatido cinco aviões e um helicóptero neste país. Também informou a morte de pelo menos oito pessoas por bombardeios russos e de três guardas de fronteira na região Sul de Kherson. Contudo, a Rússia negou relatos de que suas aeronaves ou veículos blindados foram destruídos. Separatistas apoiados pela Rússia alegaram ter derrubado dois aviões ucranianos.
Com 44 milhões de pessoas com mais de 1.000 anos de história, a Ucrânia é um país democrático e com a maior área territorial na Europa depois da própria Rússia. Após a queda da União Soviética, a população do país votou esmagadoramente pela independência, e as pretensões do país de se juntar à Otan e à União Européia enfurecem Moscou.
Putin, que negou por meses planejar uma invasão, disse em um discurso de uma hora na segunda-feira que a Ucrânia surgiu como “resultado da política bolchevique (…) [e] ainda hoje pode, com razão, ser chamada de ‘Ucrânia de Vladimir Ilyich Lênin'”, uma caracterização que os ucranianos chamam de chocante e falsa.
Em uma declaração de guerra televisionada nas primeiras horas, Putin disse que ordenou “uma operação militar especial” para proteger pessoas, incluindo cidadãos russos, submetidos a “genocídio” na Ucrânia, uma acusação que o Ocidente chama de propaganda absurda.
E para isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia — disse Putin. — A Rússia não pode se sentir segura, se desenvolver e existir com uma ameaça constante que emana do território da Ucrânia moderna… Toda a responsabilidade pelo derramamento de sangue estará na consciência do regime dominante na Ucrânia.
Segundo Tatiana Stanovaya, pesquisadora do Carnegie Moscou, “a missão não é dividir a Ucrânia, mas controlá-la completamente. Isso provavelmente se deve à intenção de interromper a conexão com a fronteira no Oeste para que não haja fornecimentos para guerrilheiros. Isso aumenta drasticamente os riscos para toda a operação.”
Reprodução: https://extra.globo.com/noticias/mundo/invasao-por-terra-ar-mar-da-russia-destroi-dezenas-de-instalacoes-militares-pistas-aereas-na-ucrania-25408309.html