
A retirada das familiais ocupantes de terras na área geográfica que se convencionou chamar de Monte Horebe, iniciada nas primeiras horas do segundo dia de março, apontam uma falha gritante da ausência de uma política pública de habitação no Governo, um dos direitos fundamentais e constitucionais, junto com saúde, educação e segurança.
A simples invasão não pode ser aceita porque é cercada por dois instrumentos marginais, mesmo entendendo que as pessoas precisam de um teto para se abrigar. O primeiro é a destruição do meio ambiente, a poluição das águas dos igarapés e a degradação urbanística, fatores que atingem de forma perversa, toda a população, em detrimento de alguns. O segundo é a ação criminosa de pessoas que induzem a ocupação, usando os pobres como massa de manobra, uns para a venda de lotes que não são seus e outros, donos titulados dos terrenos, para forçar a presença do Estado e receber gordas indenizações.
Mas o buraco é mesmo a falta de moradia: cada família, no crescimento natural, forma núcleos com seus filhos e, quando não há a famosa “puxadinha” no fundo do quintal, o jeito é buscar um pedaço de terra, nas margens dos igarapés ou em terrenos mais distantes.
Não se tem notícia de uma ação conclusiva de habitação, na equação do crescimento das famílias, nos últimos 45 anos em Manaus, desde que, no governo militar, quando o governador do Amazonas era o ministro Henoch da Silva Reis foi criada a Cidade Nova, num projeção de 15 mil habitações, número suficiente para o ano de 1975.

O projeto da Cidade Nova foi idealizado pelo escritório de planejamento do então empresário Ézio Ferreira, composto por ambientalista e sindicalista Waldir Barros e arquiteto Mário Toledo, sendo aprovado com louvor pelo Banco Nacional de Habitação-BNH, com as obras iniciadas imediatamente, sendo as primeiras unidades, num total de 1.800 entregues com a presença do presidente Figueiredo e já como governador do Estado José Lindoso.
Depois disso, necas. O projeto do prefeito José Fernandes, distribuindo lotes urbanizados gerando a criação do bairro São José não foi seguido e a zona Leste, área projetada pera o crescimento da cidade, se transformou numa imensa invasão, sob a anuência politica do então governador Amazonino Mendes e a liderança da quase santa irmã Helena Walcott.

Seguiram-se as ocupações dos igarapés, destruídos pela poluição, e o Governo Eduardo Braga imaginou o famoso Prosamin, para retirar as famílias, porém sem uma estrutura suficiente de construção de casas. O mais famoso, o conjunto Viver Melhor, sem estrutura, urbanismo, serviços de transporte, saúde e educação foi um atrativo para as facções criminosas do comando do tráfico e desaguaram na criação do Monte Horebe, totalmente dominada pelos criminosos, sem a presença do Estado.

O atual governo do radialista Wilson Lima assumir a limpeza da área, a retirada pacifica das famílias e a transformação do lugar, no centro de segurança, anunciando o pagamento de 600 reais para o aluguel de casas, mas sem anunciar qualquer programa de loteamento urbanizado ou de casas definitivas.
No jargão popular, é apenas empurrar a questão com a barriga, pois não há moradias de 600 reais para tanta gente e, ao mesmo tempo, os criminosos das facções, que pegaram o beco antes da polícia chegar, já estão aninhados e seguros em outros pontos da cidade.
O crime migra, a pobreza não tem para onde ir.
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