‘Temos de buscar saídas. Vamos voltar, mas nada vai ser o mesmo’, diz Luiza Trajano

Empresas e governo devem se unir para evitar ao máximo o corte de empregos no país, avalia Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. O custo da parada atual, necessária para proteger a saúde das pessoas, em sua opinião, vai transformar o ambiente de trabalho, que não voltará a ser o que era. Para Luiza, as medidas anunciadas pelo governo estão corretas, mas há a preocupação de como chegarão às pessoas e aos pequenos empreendedores.

 O maior desafio, agora, é manter os empregos. Nós focamos para ver o que poderíamos fazer agora, por enquanto, para manter emprego e não sair demitindo – afirmou a empresária. – Temos de buscar saídas. Vamos voltar, mas nada vai ser o mesmo. A empresa não vai ter o mesmo dinheiro, a empresa não vai ser a mesma, nosso tamanho não vai ser o mesmo. Vai ser um custo muito grande para lidar.

Ao lado do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, e da economista e consultora Zeina Latif, Luiza participou do seminário “E agora, Brasil?”, com transmissão on-line na manhã desta terça-feira, uma realização dos jornais O Globo e Valor Econômico com o patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas Federações”.

Saúde e assistência são prioridade

Mansueto afirmou que a pandemia do coronavírus impõe a necessidade de elevação de gastos com saúde e assistência aos trabalhadores e que, nesses esforços, o governo não deve “se preocupar com a economia fiscal”. Mas o secretário advertiu que “não se pode cometer o erro de transformar esse aumento de gasto em despesa permanente”.

O desafio de todos nós é não se preocupar com a economia fiscal e gastar com as pessoas, garantindo por exemplo que a saúde dos municípios possa tratar quem precisa. Mas, este ano, é um gasto temporário. O erro que a gente não pode cometer é aumentar o gasto com despesa permanente. Esse erro não devemos cometer. Em especial garantir qualquer recurso para o sistema de saúde -afirmou Mansueto durante o seminário “E agora, Brasil?”, uma realização dos jornais O Globo e Valor Econômico com o patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas Federações.

O secretário do Tesouro também afirmou outro desafio da crise é proporcionar renda aos trabalhadores que, por causa da pandemia, precisam ficar isolados em casa sem trabalhar. Mansueto disse que a quarentena é necessária e que, diante disso, esses profissionais precisam contar com o Estado.

É preciso proteger e dar renda a pessoas vulneráveis. Pessoas que não estão podendo trabalhar nesse momento e não por culpa delas. Infelizmente, todos nos tivemos de ficar em casa – afirmou. – O Brasil tem grande quantidade de trabalhadores na economia informal, e temos que fazer quase que um esforço de guerra para achar essas pessoas. Daí a importância do auxílio emergencial de R$ 600 que foi aprovado.

Proteger empregos

Mansueto afirmou ainda que o terceiro desafio da crise é dar suporte ao empresariado para a manutenção dos empregos.

Luiza Trajano frisou que vem trabalhando junto a outros empresários no sentido de sensibilizar para a importância de adotar estratégias para proteger empregos e criar oportunidade de geração de renda para pequenos e médios empreendedores.

Com 40 mil funcionários, o Magalu já contava com metade de suas vendas feitas por meios digitais. E reforçou o funcionamento de lojas como centros de distribuição durante esse período de isolamento social daqueles que podem ficar em casa.

Luiza avalia que as medidas tomadas pelo governo até aqui são boas. Mas será preciso tomar outras.

As medidas tomadas a princípio foram boas. Vão aparecer outras. Minha preocupação é que cheguem na ponta. E o Brasil é muito confuso e burocrático para chegar na ponta – destacou ela, frisando que participou diretamente em conversas com o governo na elaboração de propostas.

Para a empresária, a exigência de fechar acordos coletivos, por meios de sindicatos para reduzir jornada e salário ou suspender contratos de uma parcela de trabalhadores dificulta a atuação das empresas.

 Não dá, neste momento, nem para prever o que vai acontecer. Os empresários estão lutando para demitir. Não dá para repassar aos sindicatos. É uma burocracia que, agora, não dá. Outra coisa é entender o que está travando os bancos. O governo precisa abrir essas portas, como fez em 2008 – frisou.

Luiza destacou ainda que falta clareza na comunicação de medidas já aprovadas principalmente em relação a pequenas e médias empresas, que são grandes empregadoras no país.

Insegurança jurídica

A economista e consultora Zeina Latif disse que vê com extrema preocupação o futuro da economia brasileira, e que a insegurança jurídica do Brasil impacta gestores de políticas públicas, empresas e bancos.

Há medidas corretas, mas uma grande dificuldade de implementação –, disse.

Zeina, que participa também do evento “E agora, Brasil?”, criticou a decisão do ministro Ricardo Lewandovski, de exigir consulta aos sindicatos nos acordos das empresas com seus empregados para redução de jornada e compensações salariais.

Para Zeina, diferente da crise de 2008, esta é uma crise que está dentro de casa, não é importada.

 As consequências serão duradouras. Consumidores e empresas vão demorar a recobrar a confiança. Na área de infraestrutura, criamos um conflito com a China, que é um país que já tinha demonstrado interesse em participar de leilões aqui. Como ficará isso? O Brasil já vinha com potencial de crescimento muito baixo, então o quadro é de fato muito preocupante.

Reformas adiante

Para Luiza Trajano, discutir se a opção para o país é passar do isolamento social horizontal para o vertical é perda de tempo, atrasando a tomada de decisão em direção a medidas para preservar empregos e a economia:

O Brasil optou pela quarentena horizontal. Botou todo mundo em casa. Hoje, se abrir (o isolamento), não vai ter cliente nas ruas. Não tem mais o que se discutir. Vamos atingir o pico da epidemia a partir desta semana ou da próxima. Temos de ter previsões sobre a duração, para discutir como atuar.

Para ela, a experiência que está sendo adquirida com a aprovação de pacotes de socorro em meio à pandemia pode colaborar será positiva, ajudando a discutir e aprovar reformas estruturais mais adiante com maior agilidade. Mais Noticias em… https://extra.globo.com/noticias/economia/temos-de-buscar-saidas-vamos-voltar-mas-nada-vai-ser-mesmo-diz-luiza-trajano-24356798.html

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